domingo, 6 de setembro de 2020

Gordofobia

 Oi gente!

Boa noite!

Espero que vocês estejam bem!

Por aqui, como na maioria dos lares do mundo, um dia após o outro.

A única expectativa é a da vacina, para podermos começarmos a retomar uma "rotina", se é que posso usar esta expressão.

Mas hoje, não quero falar da pandemia.

Quero falar de Gordofobia.

Assim, como vemos o racismo, a intolerância religiosa, a xenofobia, a homofobia, e tantos outros tipos de intolerância, temos a Gordofobia.

Culturalmente, sempre ouvimos falar sobre aquele gordinho, aquela gorda, aquele com peso a mais.

Mas, gordo é engraçado, divertido.

Não corre, não tem fôlego, dizem que não tem saúde, mas são aqueles que nunca deixam faltar comida em suas festas, sempre querem ir a restaurantes e nunca vão te fazer sentir complexo de inferioridade, por que são gordos.

E claro, são gordos por que são preguiçosos!

Não querem fazer dieta, não querem fazer regime, não querem malhar, não querem parar de comer doce.

E morrem.

De tristeza, de preconceito, ou na mesa para realizar uma cirurgia bariátrica.

Por que aqueles que não suportam se encaixar no mundo magro e perfeito, acabam seubmetendo a loucuras para serem aceitos.

Eu, Daniela, comecei a engordar com 10 anos.

E de lá pra cá foi uma luta.

Com 12 anos, fui ao meu primeiro endocrinologista. Nada de açúcar. Açúcar é veneno. E aí, minha casa não era só a minha casa. Tinha irmãos. Tinha chocolate.

Eu comia chocolate escondida no banheiro para que ninguém visse que eu estava "furando" a dieta.

Com 14, e usando manequim 44, veio a moda das calças boca de sino. E tinha uma marca desejada, a da Yes Brasil. 

Cheguei na loja do shopping West Plaza, e a vendedora foi tão cruel, mas tão cruel, me dizendo que o número da calça era até 42, que não tinha o meu número... Com um nojo. Por que eu era gorda!

E aí corre fazer regime, corre pra se encaixar, corre pra tomar remédio tarja preta e vem a bulemia.

Todo dia era meu último chocolate e eu vomitava. Meu último sorvete e eu vomitava. Meu último pedaço de bolo. A última coxinha. O último, a última.

Tive buracos com falha de cabelo, por conta das medicações para emagrecer.

Mas eu precisava ser aceita para ser feliz.

As coisas que mais ouvi na vida: você tem um rosto lindo! Sua bunda é enorme! Você precisa emagrecer!

Se cair em cima de você virá papelão, se for em cima de mim celofane... E por aí vai...

A vida inteira.

Quando estava grávida do Pedro, fui ao Walmart. Estava de 8 meses. E fui ao caixa prioritário. 

A caixa do mercado me disse que o caixa era exclusivo e eu perguntei o que eu era. Sabe o que ela me respondeu: gorda!

Eu fiz o maior barraco no mercado. Arranquei a roupa e chorei.

Só que na vida, não dá pra fazer barraco a cada episódio de Gordofobia que você passa.

E foram vários, inúmeros, incontáveis.

Um dos meus dias "memoráveis" foi um passeio ao Parque da Xuxa, em 2004.

Fui em um carrossel de peixinhos com a Victoria e eu literalmente, fiquei entalada no brinquedo.

Eu não sabia se chorava, se ria, só sei que comecei a transpirar e queria sumir dali.

Foi nesse dia, que percebi, que não seria uma mãe "normal", uma mãe magra. Eu não podia acompanhar meus filhos em todos os momentos que eu queria. E não por que eu não queria. É por que eu não cabia no tamanho que a sociedade queria que eu me encaixasse, para poder ser mãe.

E parei de acompanhar meus filhos em muitos momentos. Por que não queria mais me frustar, ou frustá-los de não poder "estar" ou "participar" de atividades ou programas com eles.

Essa então, foi a gota. Há muito tempo atrás fui a um Centro Espírita. E papo vai e papo vem com o "espírito" do doutor tal, eu disse que precisa emagrecer, por que estava me sentindo cansada, e tals... Aí ele me disse, que não adiantava fazer regime, por que meu espírito era gordo!

Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! 😤😤😤

Como se você fosse apenas um pedaço de carne, ou um espírito bem pesado e fora do padrão de fantasma elevado, e não uma pessoa. Ou pior: como se você não tivesse força de lutar contra seu peso, por que você é fraca.

Quando estava grávida do Felipe, fui fazer um ultrassom com dopller para ver as artérias, coração, quantidade de líquido aminiótico do meu bebê. A doutora falou que como eu estava muito gorda, não conseguiria realizar o exame com eficácia. (Eram muitas camadas de gordura)

Qual o seu peso? Te pergunta o plano de saúde, para você ser aceito. Se o seu IMC, for maior que o esperado, você está fora! Gordo fica doente mais fácil. Gordo não pode ter plano de saúde!

Eu cansei.

Cansei desse fardo por quase 45 anos, por que eu não sou apenas um número de manequim, um tamanho um XXX. Eu sou uma pessoa.

Dia 10 de setembro, é o Dia do Gordo, que foi transformado em Dia da luta contra a Gordofobia.

Então, levanto a minha bandeira.

Porque gordos, não são apenas pessoas atrás de grandes pratos de comida, caixas de chocolates, sentados muito desconfortávelmente  em sofás. 

Gordos também tem alma e coração.

Gordos também amam.

Por hoje, é só.

Beijos,

Dani




Nenhum comentário:

Postar um comentário